Para Sentir

“Só devemos dizer aquilo que o coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

Texto extraído do livro BOA NOVA, Lição 10 – O Perdão - Psicografia de Francisco Cândido Xavier, por Humberto de Campos

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ter e ser

Remanescem da infância física traços de insegu­rança, e conflitos perduram na idade adulta, em razão da falta de maturidade psicológica do ser, expressan­do-se como apegos às coisas e pessoas, com a conse­qüente rejeição de si mesmo, instabilidade emocional e desajuste social.

Usando os conhecidos mecanismos de evasão da responsabilidade e sentindo-se fragilizado, o indiví­duo busca a auto-realização, fixando-se em valores externos como forma de destaque no grupo social, ig­norando a sua realidade profunda.

Sentimentos egocêntricos passam a aturdi-lo e, inconscientemente, acredita-se merecedor de tudo em primeiro lugar, com desconsideração pelos de­mais. Quando tal não ocorre, surgem-lhe as marcas predominantes do egoísmo e passa a reunir recursos que amontoa satisfazendo o ego, mesmo quando atin­ge os picos do poder ganancioso.

A imaturidade asselvaja-lhe e obnubila-lhe a ra­zão, que permanece asfixiada pelos tormentos do ter, enlouquecendo, a pouco e pouco, a sua vítima, cada vez mais ansiosa por novos haveres.

Ninguém vive bem sem a segurança de si mes­mo. Quando esta não decorre do auto-encontro liber­tador, é buscada através dos meios externos, que en­volvem o seu possuidor em preocupações de aumen­tá-las, em medos de perdê-las, passando à angústia de mais assegurar-se da sua retenção. Como efeito, vai traído pela concupiscência da posse, tornando-se possuído pelo objeto que supõe possuir.

Desperta-se-lhe em grau crescente a avareza que o amarfanha, e, depois da alegria fugaz da posse material, transfere-se para a ilusão da dominação ar­bitrária de outras vidas, de outras pessoas, acredi­tando-se capaz de detê-las, subjugá-las como con­quistas a mais.

Autodesprezando-se, graças à insegurança ínti­ma, não se considera merecedor de afetos, supondo que, quantos se lhe acerquem, estão interessados no que ele tem, e jamais no que é.

Porque se sente sem possibilidade de amar, em­bora lhe irrompam episódios de afetividade, que con­verte em paixões de gozo imediato, não crê que pode ser amado com desinteresse pelos seus haveres.

Assim não sucedendo e vindo a consorciar-se, ele o faz mediante cláusulas de separação de bens, bens que lhe são alicerces de segurança no inconsciente.

Com a percepção embotada, mede os fenômenos existenciais com os instrumentos da atividade contá­bil, considerando triunfadores somente os que dis­põem de contas bancárias volumosas, latifúndios lar­gos e semoventes aos milhares...

A sua louca ambição torna-o misantropo, deten­do-o no pórtico das grandes realizações, sem a cora­gem moral para atravessá-lo, amesquinhando-o. Se vence o medo de doar algo e o realiza, necessita de ter o ego recompensado pela gratidão, passando àcondição de benfeitor, quando tudo no mundo, com o seu caráter de transitoriedade, faz, das criaturas aqui­nhoadas, mordomos que prestarão contas, ou servi­dores encarregados de bem aplicar, qual o ensina­mento de Jesus através da parábola dos talentos no Evangelho.

O bom aplicador, além dos juros que recebe, ex­perimenta o júbilo da realização, a imensa alegria do serviço, exteriorizada no bem-estar que proporciona.

Ninguém tem coisa alguma no mundo: nem cor­po, nem valores amoedados, nem pessoas sob domí­nio... A incessante transformação, vigente no Cosmo, tudo altera a cada instante, e o vivo de agora estará morto logo mais; o dominador torna-se vítima; o cor­po se dilui; os objetos passam de mãos...

Todo aquele que busca a posse, o ter e reter, per­manece vazio de sentimentos e, porque nada é, en­che-se de artefatos e coisas brilhantes, porém mor­tas, prosseguindo cheio de espaços e abarrotado de preocupações afugentes.

O objetivo da vida humana parte do ponto inicial no corpo — a infância — e cresce sem perder o contato com a sua realidade original, ser transcendental que é. Chegando à realização da consciência, deve expan­di-la, enquanto mais se autopenetra e descobre no­vos potenciais a desenvolver.

Ser consciente de si mesmo é a meta existencial, conseguindo o auto-amor que desdobra a bondade, a compaixão, a ação benéfica em favor do próximo.

Alguns psicólogos transpessoais concluem que, à meditação transcendental — abstrata—, os sentimen­tos de amor e autodoação — concretos — devem pre­valecer emulando o indivíduo a ser integral, realiza­do, capacitado para a felicidade.

Os conflitos então cedem lugar, quando os seus espaços são preenchidos pelas realizações expressi­vas, libertadoras.

A autovalorização não-egoísta, despretensiosa, permite o encontro do self, que se desvela com infini­tas possibilidades. Rompem-se os limites que ames­quinham e ampliam-se as áreas de produção que en­grandecem.

Correspondendo a esse estágio, o amadurecimen­to psicológico faz que o indivíduo cresça sempre e cada vez mais, reconhecendo a sua pequenez, que se agranda ante a excelência da Vida que ele con­quista.

O individualismo que nele prevalecia cede lugar ao amor que convive e se expande na direção dos ou­tros, aqueles que constituem a sociedade na qual se encontra, passando a trabalhá-la, a fim de que tam­bém ela seja feliz.

A vaidade, o narcisismo, que existiam na sua per­sonalidade, desaparecem por ausência da vitalidade fornecida pelo ego inseguro, que tinha necessidade de sobreviver, já que o self se encontrava soterrado no desconhecimento.

A conquista do si é realização que independe do ter, do reter, mas que não prescinde do interesse e da luta enviada para ser.

A segurança psicológica do indivíduo centraliza-se no autoconhecimento, na auto-identificação, no auto-amor, no ser.


do livro O SER CONSCIENTE de Divaldo P. Franco pelo espírito Joanna d´Ângelis

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