Para Sentir

“Só devemos dizer aquilo que o coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

Texto extraído do livro BOA NOVA, Lição 10 – O Perdão - Psicografia de Francisco Cândido Xavier, por Humberto de Campos

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A conquista de si mesmo

A aquisição da consciência demanda tempo e es­forço humano, tornando-se o grande desafio do pro­cesso da evolução do ser.

Surgem-lhe os pródromos, na fase do instinto, abrindo espaço para a razão, como fenômeno natural do desenvolvimento antropológico-psicológico-socio-lógico da criatura.

O discernimento do bem e do mal, do certo e do errado, e as aquisições ético-morais aparecem, como se fossem o medrar espontâneo da essência divina de que é constituído o Espírito; todavia, o aprimoramento e a profundidade desses valores dependem do empenho, do interesse, das realiza­ções de cada um.

Herdeiro dos arquétipos remotos dos seus ante­passados, o indivíduo mantém por atavismos religio­sos e culturais a consciência de culpa, especialmente os ocidentais, vitimados pelas heranças judaico-cris­tãs, no que diz respeito à desobediência de Eva, no paraíso, e ao fratricídio cometido por Caim contra Abel.

A divina punição de Deus pela rebeldia da mulher e pela insensatez do homem, que a seguiu no erro, responde pelo sofrimento que os acicata, assim como a expulsão do criminoso aumenta-lhe a angústia, dan­do-lhe margem ao ciúme doentio e à raiva, conside­rando a preferência injustificável de Deus por Abel, cujas oferendas mais O agradavam...

A absurda aceitação literal do texto bíblico, que tem um caráter simbólico, quiçá para demonstrar o momento em que surge a consciência, — quando o ser pode identificar o que deve, daquilo que não lhe é lícito realizar, saindo do automatismo do instinto para a seleção do discernimento racional, representados no mito da Árvore do conhecimento do bem e do mal —devido a interpretações apaixonadas e fanáticas, ge­rou conflitos que ainda remanescem nas vidas psico­logicamente imaturas.

Na fase do instinto, os fenômenos biológicos au­tomáticos não se fazem acompanhar das dores, que são maiores conforme mais seja apurada a sensibili­dade, qual sucede na ocorrência do parto, que passou a ser punição divina, tornando a procriação um verda­deiro castigo, fruto ainda da desobediência que, mile­narmente, transformou a comunhão sexual em conde­nável e imunda, do ponto de vista puritano e hipócrita.

Fonte de vida, o sexo é o instrumento para a per­petuação da espécie, não sendo credor de qualquer condenação. O ultraje e a vulgaridade, a nobreza e a elevação amorosa mediante os quais se expressa, de­pendem do seu usuário e não da sua função em si mesma.

Igualmente a arbitrária eleição celeste de um por outro irmão, ambos gerados em circunstâncias iguais, teria que despertar ressentimentos contraditórios, de ciúme e de raiva, no rejeitado, que levariam inevita­velmente ao hediondo fratricídio...

De geração em geração, a criança que se sentia desprezada, desenvolveu esses sentimentos perver­sos, perturbando o desenvolvimento da consciência e a conseqüente conquista de si mesmo.

Em qualquer atividade, competitiva ou não, o in­consciente desatrela a insegurança infantil, ali ador­mecida, e surgem os conflitos, a infelicidade, a des­confiança desastrosa.

Graças, porém, à reencarnação, o progresso do ser é imperioso, inevitável, e os mecanismos da evolução se expressam, trabalhando-o e promovendo-o a níveis e patamares cada vez mais elevados, até quando o ser, liberto dos conflitos, conquista os sentimentos que canalizará na direção de novas metas, que alcança realizando-se, plenificando-se.

Já não luta contra as coisas, mas luta pelas coi­sas, que aprende a selecionar e qualificar, abando­nando, por superação, as paixões dissolventes e fi­xando os valores que enobrecem.

Percebendo-se instrumento da vida, que faz par­te da harmonia do Universo, o indivíduo supera a rai­va, por ausência do ciúme, e não compete para des­truir, mas trabalha para fomentar o progresso, no qual se engaja e se realiza.

A conquista de si mesmo resulta, portanto, do amadurecimento psicológico, pela racionalização dos acontecimentos, e graças às realizações da solidari­edade, que facultam a superação das provas e dos sofrimentos, os quais passam então a ter um com­portamento filosófico dignificante — instrumentos de valorização da vida — ao invés de serem castigos àculpa oculta, jacente no mundo íntimo.

A libertação dessa consciência doentia facilita o entendimento do mecanismo da responsabilidade no comportamento que estabelece o lema: A cada um conforme os seus atos, segundo ensinou o Terapeuta Galileu.

Senhor do discernimento, o homem descobre que colhe de acordo com o que semeia, e que tudo quanto lhe acontece, procede, não tendo caráter castrador ou punitivo. Sente-se emulado a gerar novos futuros efei­tos, agindo com consciência e produzindo com eqüi­dade. Tal conduta proporciona-lhe a alegria que provém da tranquilidade da realização, considerando que sem­pre é tempo de reparar, e postergação é-lhe prejuízo para a economia da sua plenificação.

O homem que se conquista supera os mecanis­mos de fuga, de transferência de responsabilidade, de rejeição e outros, para enfrentar-se sem acusação. sem justificação, sem perdão.

Descobre a vida e que se encontra vivo, que hoje é o seu dia, utilizando-o com propriedade e sabedoria. Não tem passado, nem futuro, neste tempo intempo­ral da relatividade terrestre, e a sua é uma consciên­cia atual, fértil e rica de aspirações, que busca a inte­gração na Cósmica, que já desfruta, vivendo-a nas expressões do amor a tudo e a todos intensamente.

A conquista de si mesmo é lograda mediante o querer.

Jesus afirmou que se poderia fazer tudo quanto Ele fez, se se quisesse, bastando empenhar-se e en­tregar-se à realização. Para tanto, necessário seria a fé em si mesmo, nos valores intrínsecos, que seriam desenvolvidos a partir do momento da opção.

Francisco de Assis, o santo, assim quis e o conse­guiu.

Apóstolos do bem, da ciência e da fé, do pensa­mento e da ação quiseram, e o lograram.

Homens e mulheres anônimos entregaram-se aos ideais que lhes vitalizaram as existências e, superan­do-se, autoconquistaram-se.

A conquista de si mesmo está ao alcance do que­rer para ser, do esforçar-se para triunfar, do viver para jamais morrer...

do livro O SER CONSCIENTE de Divaldo P. Franco pelo espírito Joanna d´Ângelis

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