Para Sentir

“Só devemos dizer aquilo que o coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

Texto extraído do livro BOA NOVA, Lição 10 – O Perdão - Psicografia de Francisco Cândido Xavier, por Humberto de Campos

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Ser Consciente

DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

Esmagado por conflitos que não amainam de intensida­de, o homem moderno procura mecanismos escapistas, em vãs tentativas de driblar as aflições transferindo-se para os setores do êxito exterior, do aplauso e da admiração social, embora os sentimentos permaneçam agrilhoados e ferretea­dos pela angústia e pela insatisfação.

As realizações externas podem acalmar as ansiedades do coração, momentaneamente, não, porem, erradica-las, razão por que o triunfo externo não apazigua interiormente.

Condicionado para a conquista das coisas, na concepção da meta plenificadora, o indivíduo procura soterrar os conflitos sob as preocupações contínuas, mantendo-os, no entanto, vivos e pulsantes, até quando ressumam e sobre­poem-se a todos os disfarces, desencadeando novos sofrimentos e perturbações devastadoras.

O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria mente.

Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que devem ser estudadas pacientemente, a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais — parecer e ser —, as inquietações e tendências que o comandam, estabelecendo os paradigmas corretos para a jornada, liberado dos cho­ques interiores em relação ao comportamento externo.

Ignorar uma situação não significa elimina-la ou supera-la. Tal postura permite que os seus fatores constitutivos cresçam e se desenvolvam, até o momento em que se tornam insustentáveis, chamando a atenção para enfrenta-los.

O mesmo ocorre com os conflitos psicológicos. Estão presentes no homem, que, invariavelmente, não lhes dá valor, evitando deter-se neles, analisar a própria fragilidade, de modo a encontrar os recursos que lhe facultem diluí-los.

Enraizados profundamente, apresentam-se na consciência sob disfarces diferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os narcisismos, a agressividade, a culpa, a ti­midez, até os estados graves de alienação mental.

Todo conflito gera insegurança, que se expressa multi­facetadamente, respondendo por inomináveis comportamen­tos nas sombras do medo e das condutas compulsivas.

Suas vítimas padecem situações muito afugentes, tom­bando no abandono de si mesmas, quando as resistências disponíveis se exaurem.

O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-se sem cessar.

Somente consegue essa lucidez aquele que se auto-ana­lise, disposto a encontrar-se sem máscara, sem deterioração. Para isso, não se julga, nem se justifica, não se acusa nem se culpa. apenas descobre-se.

À identificação segue-se o trabalho da transformação interior para melhor, utilizando-se dos instrumentos do auto-amor, da auto-estima, da oração que estimula a capacidade de discernimento, da relaxação que libera das tensões, da meditação que faculta o crescimento interior.

O auto-amor ensina-o a encontrar-se e desvela os po­tenciais de força íntima nele jacentes.

A auto-estima leva-o à fraternidade, ao convívio saudá­vel com o seu próximo, igualmente necessitado.

A oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência e da Vida real.

A relaxação proporciona-lhe harmonia, horizontes lar­gos para a movimentação.

A meditação ajuda-o a crescer de dentro para fora, rea­lizando-se em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de consciência.

O auto-conhecimento se torna uma necessidade priori­tária na pro gramática existencial da criatura. Quem o pos­terga, não se realiza satisfatoriamente, porque permanece perdido em um espaço escuro, ignorado dentro de si mesmo.

Foi necessário que surgissem a Psicologia Transpesso­al e outras áreas doutrinárias com paradigmas bem definidos a respeito do ser humano integral, para que se pudesse propor à vida melhores momentos e mais amplas perspecti­vas de felicidade.

A contribuição da Parapsicologia, da Psicobiofísica, da Psicotrônica, ampliou os horizontes do homem, propiciou-lhe o encontro com outras dimensões da vida e possibilida­des extrafísicas de realização, que permaneciam soterradas sob os escombros do inconsciente profundo, ou adormecidas nos alicerces da Consciência.

Antes, porém, de todas essas disciplinas psicológicas e doutrinas parapsíquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa possibilidade de ser consciente, concitan­do-a ao auto-encontro e à autodescoberta a respeito da vida além dos estreitos limites materiais.

Perfeitamente identificado com os elevados objetivos da existência terrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espíritos Benfeitores. “Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?”

Eles responderam: “— Um sábio da Antigüidade vo-lo disse. Conhece-te a ti mesmo.”(*)

Comentando a resposta, Santo Agostinho, Espírito, en­tre outras considerações explicitou: “... O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar asfaltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis se prati­cada por outra pessoa... “ “E prosseguiu: “... dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros, e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.”

Na análise diária e contínua dos atos, o auto e o alo­-amor serão decisivos para a avaliação. A oração e a medita­ção irão constituir recurso complementar para afixação das conquistas.

Quem ora, fala; quem medita, ouve, dispondo dos re­cursos para exteriorizar-se e interiorizar-se.

Há, no entanto, estruturas psicológicas muito frágeis ou assinaladas por distúrbios de comportamento grave. Nes­ses casos, urge o concurso da Ciência Espírita, com as tera­pias

(*) O Livro dos Espíritos. 29ª edição da FEB. Questão 919.

profúndas que dispõe; e, de acordo com a intensidade do distúrbio, torna-se necessária a ajuda do psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema, que será eqüacionado pela Psicologia, pela Psicanálise ou pela Psiquiatria.

Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interferências espirituais variadas, gerando quadros de obses­sões complexas, para os quais somente as técnicas espíritas alcançam os resultados desejados, por se tratarem, esses agentes perturbadores, de Entidades extracorpóreas, porém portadores dos mesmos potenciais das suas vítimas: senti­mentos e emoções, inteligência e lucidez, experiências e vidas.

*

O ser consciente é austero, mas sem carranca; é jovial, porém sem vulgaridade; é complacente, no entanto sem co­nivência; é bondoso, todavia sem anuência com o erro. Aju­da e promove aquele que lhe recebe o socorro, seguindo adi­ante sem cobrar retribuição.

É responsável, e não se permite o vão repouso enquanto o dever o aguarda. Conhecendo suas possibilidades, coloca­-as em ação sempre que necessário, aberto ao amor e ao bem.

Só o amadurecimento psicológico, através das experi­ências vividas, libera a consciência do ser; e, ao consegui-la, ei-lo feliz, conquistando a Terra da Promissão bíblica.

*

Este modesto livro, que ora trazemos à análise do caro Leitor, pretende, sem presunção, auxiliá-lo na conquista da consciência.

Não apresenta qualquer técnica nova ou milagrosa. Estuda algumas problemáticas humanas à luz da Quar­ta Força em Psicologia, colocando uma ponte na direção da Doutrina Espírita, que é portadora de uma visão profunda e integral do ser.

Confiamos que será útil a alguém que se encontre aflito ou fugindo de si mesmo, ajudando-o na solução do seu pro­blema, e isto nos Compensará plenamente.

Salvador, 19 de maio de 1993.

Joanna de Ângelis

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