Para Sentir

“Só devemos dizer aquilo que o coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

Texto extraído do livro BOA NOVA, Lição 10 – O Perdão - Psicografia de Francisco Cândido Xavier, por Humberto de Campos

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Autocompaixão

Psicologicamente, o homem que cultiva a autopi­edade desenvolve tormentos desnecessários que o deprimem na razão direta em que a eles se entrega.

Reflexões sobre dificuldades pessoais constituem fenômeno auxiliar para ações dignificadoras, facultan­do a identificação dos recursos disponíveis, bem como avaliação das atitudes que redundaram em insuces­so ou desequilíbrio, a fim de as evitar no futuro ou corrigi-las quanto antes.

Toda aprendizagem assenta-se nos critérios do erro e do acerto, selecionando as experiências consi­deradas saudáveis, benéficas, que se fixam pela na­tural repetição.

Desse modo, os insucessos são patamares que propiciam avanços para que se alcancem degraus mais elevados.

Quando, porém, o indivíduo elege a posição de vítima da vida, assumindo a lamentável condição de infelicidade, encontra-se a um passo de perturbações emocionais graves, logo derrapando em psicopato­logias devastadoras.

A mente, conforme seja acionada pela vontade, torna-se cárcere sombrio ou asas de libertação, e nin­guém se lhe exime à influência.

Conduzida pelos escuros corredores da lamenta­ção, desatrela condicionamentos que aprisionam o ser demoradamente.

Por isso mesmo, o cultivo da autocompaixão, me­diante a insistente reclamação em torno dos aconteci­mentos da vida, demonstrando insatisfação sistemá­tica, transforma-se em mecanismo masoquista de perturbadora presença no psiquismo. A pseudo-afli­ção mantida converte-se em motivo de alegria, reali­zando um mecanismo de valorização pessoal, cujo desvio comportamental plenifica o ego.

Todo aquele que se faculta a autocompaixão neu­rótica é portador de insegurança e de complexo de inferioridade, que disfarça, recorrendo, inconscientemente, às transferências da piedade por si mesmo, sem qualquer respeito pelas demais pessoas. Desenvolve os sentimentos de indiferença pelos problemas dos outros, fechando-se no círculo diminuto da personali­dade mórbida.

No seu atormentado ponto de vista, somente a sua é uma situação dolorosa, digna de apoio e solidarie­dade. E, quando essas expressões de socorro lhe são dirigidas, reage, recusando-as, a fim de permanecer na postura de infelicidade que o torna feliz.

Aquele que se entrega à autocompaixão nunca se satisfaz com o que tem, com o que é, com os valores de que dispõe e pode movimentar. Não raro, encon­tra-se mais bem aquinhoado do que a maioria das pessoas no seu grupo social; no entanto, reclama e convence-se da desdita que imagina, encarcerando-se no sofrimento e exteriorizando mal-estar à volta, com que contamina as pessoas que o cercam ou que se lhe acercam.

Os grandes vitoriosos do mundo lutaram com te­nacidade para romper os limites, os problemas, as enfermidades, os desafios. Não nasceram fortes; tor­naram-se vigorosos no fragor das batalhas travadas. Não se detiveram na lamentação, porque investiram na ação todo o tempo disponível.

Milton, o poeta cego, prosseguiu escrevendo ex­celentes poemas, ao invés de lamentar-se; Beethoven continuou compondo, e com mais beleza, após a sur­dez total; Chopin, tuberculoso, deu seguimento às músicas ricas de ternura, entre crises de hemoptises, e Mozart, na miséria, sofrendo competições ultrizes, traduziu para os ouvidos humanos as belas melodias que lhe vibravam na alma...

Epícteto, escravo e doente, filosofava, estóico; Demóstenes, gago, recorreu a seixos da praia, colo­cando-os sobre a língua, para corrigir a dicção; Stein­metz, aleijado, contribuiu para o engrandecimento da Quimica...

Franklin D. Roosevelt, vitimado pela poliomielite, tornou-se presidente da América do Norte e colabo­rou grandemente para a paz mundial durante a Se­gunda Guerra; Helen Keller, cega, surda e muda, co­moveu o mundo com a sua coragem, cultura, e amor a Deus, ao próximo, à vida e a si própria...

A galeria é expressiva e iluminada pelo gênio e pela coragem desses homens e mulheres extraordi­nários.

Quando se mantém a autocompaixão, extermina-se o amor, não se amando, nem tampouco a ninguém.

O homem tem o dever de aprofundar meditações em torno das aflições e dos seus problemas, a fim de os superar.

A desenvolvimento saudável do ser psicológico impele-o à confiança e o induz à atividade para a aqui­sição do sentido da vida, da sua finalidade.

Quem de si se compadece, recusa-se a crescer e não luta, estagiando na amargura com a qual se com­praz.

Fator de desintegração da personalidade, a auto-compaixão deve ser rechaçada sempre e sem qualquer consideração, cedendo espaço mental para os tenta­mes que levam à vitória, à saúde emocional e à har­monia íntima.

do livro O SER CONSCIENTE de Divaldo P. Franco pelo espírito Joanna d´Ângelis

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