Passando ao compartimento próximo, uma bonita sala-de-estar, reparei, surpreendido, num retrato de mamãe, de grandes proporções, que, a notar pelas aparências, era guardado ali com imenso carinho.
Comoveu-me muitíssimo aquela valiosa lembrança, colocada num dos ângulos da sala.
Que saudades enormes transbordaram de meu coração!...
Abracei-me ao retrato, ansiosamente.
Vovó Adélia, contudo, embora tivesse os olhos rasos d’água, dirigiu-me a palavra, com energia adoçada de ternura:
- Carlos, não se emocione! Recorde sua necessidade de equilíbrio sentimental. Precisamos colaborar com o médico e, para isso, lembramo-nos de sua mãe com alegria!
Reprimi a inquietação que parecia invadir-me novamente, tranqüilizei a mim mesmo, recompus a fisionomia e procurei sorrir, satisfeito. Vovó e Tia Eunice sorriram também, apreciando-me a boa vontade em obedecer-lhes às recomendações.
Apesar de minha inexperiência, ensaiei a modificação do quadro emotivo, perguntando:
- Vovó, a senhora tem visitado mamãe?
- Sim, sempre posso – esclareceu ela, sorridente, por observar-me o propósito de renovação, e acrescentou: - lamento apenas que Arlinda não possa compreender, por enquanto, as verdades espirituais. Tem, por isso, perdido muito tempo, dando-se a muitas atividades inúteis.
Sim, vovó falava com indiscutível acerto.
Ah! Se todos soubéssemos, aí na Terra , como é grande e formosa a vida!
Esse pensamento encheu-se de esperança nova. Meus sentimentos ergueram-se mais alto e, abraçando nossa querida avozinha, indaguei:
- A senhora acredita, vovó, que eu ainda possa ser útil a mamãe?
Os olhos de nossa admirável velhinha encheram-se de alegria. Abraçou-me, por sua vez, e exclamou:
Como não, meu filho? Depende de sua boa vontade, de seu esforço nos serviços de preparação. Quando chegar ao Parque dos Meninos, não procure o descanso antes do trabalho e receberá, muito em breve, o júbilo de auxiliar, não apenas a mamãe, mas a muita gente.
Elevando com a resposta e interessado em saber mais de meu novo ambiente, fiz interrogações quanto ao paradeiro de vovô Antônio e de tio Álvaro, sobre os quais sempre se referia mamãe com grande estima. Faltava a presença deles naquela casinha cheia de amor.
Vovó Adélia, porém, escutou-me e ficou muito triste. Seus olhos estavam cheios de lágrimas que não chegavam a cair.
Esperava-lhe os informantes, quando tia Eunice se adiantou e disse:
- Carlinhos, por enquanto você não pode receber os esclarecimentos que deseja. Seu vovô e seu tio ainda não puderam chegar até aqui. Mais tarde, saberá tudo.
Ambas, todavia, mostraram-se tão acabrunhadas, que procurei mudar de assunto, recordando o ensino de mamãe de que nunca devemos prosseguir em conversações que sejam desagradáveis a outras pessoas. Creio, porém, que vovô Antônio e tio Álvaro não vão bem, onde se encontram.
(Livro: Mensagens do Pequeno Morto - Psicografia de Francisco C. Xavier - Espírito Neio Lúcio)
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