Helena, com pouco mais de cinqüenta anos, decidiu que iria envelhecer.
Os cabelos longos e tingidos de castanho escuro foram cortados na altura da nuca e nunca mais ela os pintou. Logo já se pôde ver que sua cabeça estava bastante grisalha. Aposentou as lentes de contato e passou a usar óculos nada modernos, a maquiagem também foi colocada de lado, as roupas tornaram-se discretas e senhoris. Na verdade eram poucas, visto que praticamente não saía mais de casa. Seu uniforme passou a ser robe e chinelos.
Se afastou do seu círculo de amigos. Deixou de aceitar convites para reuniões, festas, cinema, teatro. Abandonou as caminhadas à beira-mar e escondeu-se do sol, tanto que perdeu seu bronzeado luminoso e sua pele foi ficando cada vez mais alva.
Saía apenas para ir ao supermercado e rapidamente para levar Molly, sua cachorrinha, para fazer suas necessidades. Nessas poucas saídas, se algum homem a admirava, ela abaixava os olhos rapidamente, como se não tivesse mais o direito de parecer interessante para alguém.
Em casa seu lugar preferido era a cadeira de balanço, onde ficava sentada horas a fio pensando no passado e derramando lágrimas ao perceber que ele não tinha mais como voltar. Ao seu lado estava sempre Molly, a única que ela permitiu que ainda continuasse fazendo parte de sua vida.
Com o tempo, a solidão e a tristeza a levaram à depressão. Dores horríveis no peito, tremores, angústia, insônia, medo. Já não tinha vontade nem sequer de sair da cama quando o dia amanhecia. Ninguém mais a visitava, nem sequer telefonava. Ela mesma afastou todos de si.
Com o tempo, nem suas janelas se abriam, tampouco suas cortinas.
Molly passou a fazer suas necessidades dentro de casa mesmo, nunca mais viu a rua.
Um dia, pela manhã, quando eu saía para o trabalho, ouvi os comentários na portaria.
O porteiro já vinha interfonando e tocando a campainha na casa de Helena há uns dois dias para entregar a correspondência e ela não atendia, apenas Molly latia lá dentro. O síndico então, preocupado, autorizou arrombar a porta.
Ela estava lá, deitada em sua cama, olhos cerrados, o rosto sem cor, o corpo rígido e frio. Havia morrido antes do tempo, porque decidiu envelhecer antes do tempo também.
Envelhecer, embora não pareça, é uma decisão.
Pessoas envelhecem aos quarenta e outras conseguem se manter jovens aos noventa. Portanto, não decida envelhecer nunca. Apesar de qualquer coisa que você tenha vivido, a vida merece uma chance, você merece várias chances de ser feliz e em qualquer idade isso pode acontecer.
Não abrevie os seus sonhos por causa de decepções, não desista de nada na sua vida sem ter tentado muitas vezes, mas se ficar provado que realmente não tem que ser, parta para novas tentativas. São elas que colocam gás em nossas vidas.
Se você se fechar para o mundo ou partir antes da hora sempre haverá alguém que sofrerá por isso.
Molly hoje mora com o Sr. Zé, o porteiro, e não é mais alegre e espevitada como antes. No seu olhar mora uma saudade.
Silvana Duboc
Nenhum comentário:
Postar um comentário