Não são raras as pessoas que têm medo de bichos.
Refiro-me aos domésticos, que convivem conosco pacificamente nos dando alegria e a esperança de que é possível um dia transformarmos nosso sistema ao deles, os bichos.
Mas será que é certo chamarmos os "bichos" de bichos?
Pensando bem, a vida tem inúmeros deles que se encaixam nas mais diferentes formas de expressão. Por exemplo: "olha filho, se você não comer, mamãe chama o bicho-papão". Esse é o bicho da ameaça, muito comum nos lares brasileiros. Há o adjetivo "puxa vida fulano, você é mesmo um bicho". Aqui, creio eu, seria uma forma de dizer que a pessoa é agressiva, violenta... Outro caso é a Rosinha, moradora do sítio, que quando chega na cidade grande (afeeeeeeeee) é chamada de "bicho do mato", porque não tem alguns hábitos. Mas tem outros, tão bons quanto...
Mas, sem dúvida alguma, o bicho que mais me assusta é mesmo o bicho homem. Um típico é aquele que se levanta de manhã já com o propósito de espalhar pânico, quer seja na sua forma de tratar a família, com machismo e grosserias, quer seja no trato com seus funcionários e amigos, deliberando 24 horas por dia atribuições infinitas para quem o cerca. Não pode parar para pensar em quem ele é, então, com sofreguidão, vive...
Ainda convivemos muito com o bicho homem que maltrata e humilha, sistematicamente, todas as pessoas que vê na frente: balconistas, motoristas, empregados domésticos, porteiros, enfermeiros, e assim, sucessivamente, conforme forem passando por ele ao longo do seu dia. O bicho homem mata seus semelhantes e as outras espécies. Por ganância, destrói seu próprio planeta, passa a perna em seus melhores amigos, trai, rouba, mas o pior: consegue ser cruel com seres indefesos (inclusive de sua própria espécie), muitas vezes por puro prazer.
Todos esses bichos-homens poderiam e deveriam ter a sensibilidade canina que transpira lealdade e amor incondicional, independentemente da idade, classe social, raça ou cultura de seus donos. Ou ter a paciência e conduta de um gato, que mede milimetricamente cada passo que dá, sem perturbar quem está à sua volta, nem exigir o que não pode administrar.
Quem sabe o bicho homem tenha a sensatez de um animal, de um bicho, que só mata pra saciar a fome e nunca foge, mas é abandonado. Pudéssemos nós, humanos racionais, sermos bichos na nossa verdade interior e no nosso comportamento com as pessoas, disseminando bondade e solidariedade.
Mas somos tão inferiores aos animais que chamando-os de bichos estamos colocando-os na mesma posição que nós, humanos (?), matadores que somos, não pela caça, mas, repito, pelo prazer de matar. Não é justo com os animais denominá-los bichos, porque bichos somos nós, homens, do batalhão de Deus, que deve estar envergonhado de ter-nos misturado com tão sábias criaturinhas.
E para a pessoa que outro dia fazia palanque para dizer que tem medo de "bichos" (cãezinhos e gatos), espero que ela compreenda que neste mundo bicho homem, sim, mete medo. Porque não come a cria doente. Mata a saudável.
Que Deus tenha compaixão de todas as pessoas que maltratam animais!
Soraya Ruffo
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