Para Sentir

“Só devemos dizer aquilo que o coração pode testificar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

Texto extraído do livro BOA NOVA, Lição 10 – O Perdão - Psicografia de Francisco Cândido Xavier, por Humberto de Campos

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O SONO BOM

Surpreendido, notava que nenhum de vocês fazia caso da presença de tia Eunice, dando-me a impressão de que não na viam; e até o doutor Martinho, que lhe ficava defronte, mostrava absoluta indiferença;

Ela, contudo, não estava menos satisfeita por isso.

Após acomodar-se à cabeceira, nossa tia posou a mão macia sobre a minha cabeça e grande alívio me banhou o coração.

Tive a idéia de que raios de sol me penetravam o corpo em desalento.

Não pude conversar como desejava, mas não consegui pensar mais claramente. Desviei a atenção que concentrava na garganta dorida e raciocinei sem maior aflição.

Estaria menos mal? A morte permaneceria rondando-me o leito? Que aconteceria nos próximos minutos?

Quis endereçar algumas perguntas à Tia Eunice, explicando-lhe, ao mesmo tempo, que sentia imenso receio de morrer; todavia, meus lábios estavam quase imóveis.

Ela, porém, segundo minha observação, percebeu, de pronto, o que me passava pelo cérebro.

Sorriu-me, bondosamente, e disse:

- Você, na verdade, acredita que alguém possa desaparecer para sempre? Não creia em semelhante ilusão... É preciso tranquilizar-se. Afinal de contas, os dias de dor e as noites de insônia têm sido numerosos.

- Sorriu, com ternura mais acentuada, inspirando-me profunda confiança, e tornou a dizer:

- É necessário que você durma sossegado, sem qualquer inquietação.

E como eu lhe ouvisse os conselhos, acrescentou:

- Descanse, Carlinhos! Ceda, sem temor, à influência do sono. Velarei por você...

Em seguida, passou a mão direita, de leve e repetidamente, sobre a minha cheia de feridas. A transformação que experimentei foi completa. Acreditei que me estivesse aplicando deliciosa compressa de alívio. As dores que me atormentavam, havia tanto tempo, cederam, pouco a pouco.

Indizível tranquilidade dominou-me, por fim. Entreguei-me, confiante, aos carinhos de Tia Eunice, como me abandonava, comumente, à ternura de mamãe.

Logo após, a mão dela, carinhosa e boa, afagou-me o roto banhado de suor, detendo-se docemente sobre minhas pálpebras...

Tentei, ainda, olhar para você; todavia, não pude.

A visitante inesperada cerrou-se os olhos, com brandura, e acentuou:

- Durma, Carlinhos! Você está cansado...

Nada respondi com a boca; entretanto, concordei mentalmente, agradecido e reconfortado.

Tia Eunice observou-me a silenciosa de satisfação, porque, nesse instante, curvou-se e beijou-me.

Recordei-me, então, do beijo de mamãe, cada noite, e, em vista do alívio que eu sentia, entreguei-me finalmente ao sono bom.

(Livro: Mensagens do Pequeno Morto - Psicografia de Francisco C. Xavier - Espírito Neio Lúcio)

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